terça-feira, 20 de abril de 2010

Morto sem sepultura

Um dos fracassos da Justiça maranhense, desses que se denunciam aos tribunais internacionais, completa 10 anos em março do ano que vem, com sério risco de terminar em impunidade.

Trata-se do assassinato em Timon (terceira maior cidade do Maranhão, a 434 km de São Luís) do radialista Jorge Vieira(foto), vitimado por sicários que o balearam no dia 23 de março de 2001, causando-lhe a morte uma semana depois.

Vieira tinha um programa de rádio em que atacava violentamente o prefeito Chico Leitoa (PDT), hoje deputado estadual, então começando seu segundo mandato consecutivo em Timon. Fora ameaçado de morte e falara disso aos amigos e ouvintes.

Desde o princípio, todo mundo sabia que o caso era político. Ou Vieira fora atacado por pessoas do grupo de Leitoa, ou, numa hipótese mais complexa, logo defendida pelos amigos do prefeito, por pessoas interessadas em incriminá-lo.

O inquérito policial rapidamente identificou Geraldo da Silva e Silva, “guarda-costas” de Leitoa, como chefe do grupo que agredira o radialista e, ante a reação dele, terminara por baleá-lo. Como mandantes, o delegado Paulo Márcio indiciou Leitoa e dois de seus secretários, entre outros.

Em mais de uma oportunidade, o Colunão apontou incorências na acusação ao prefeito. Não havia indícios consistentes, nenhum precedente o ligava à violência e de resto não parecia razoável que mandasse bater ou matar depois de vencida a eleição e quando já movia uma ação penal contra Vieira. Também parecia esquisito que outro dos indiciados fosse acusado de haver emprestado uma arma registrada, de sua coleção particular, aos criminosos — a perícia técnica não confirmou a versão. Hoje em dia há quase consenso de que não foi Leitoa, embora muitos suspeitem que ele sabe quem foi.

Cherchez la femme

Com a intervenção do Ministério Público nos procedimentos investigatórios, Polícia e promotores de Timon chegaram à conclusão, mais adiante, de que o principal mandante fora Maria Bernadete Ferreira, mulher de Leitoa.

No total, o MP denunciou sete pessoas pelo assassinato, três das quais foram condenadas: Geraldo da Silva e Silva, a 19 anos de reclusão; Raimundo Teles de Sousa Vidal, 18 anos, e o soldado João Matias Pinheiro, da PM do Piauí, seis anos em regime semi-aberto.

Já Maria Bernadete, o então secretário Dolival Pereira de Andrade e a funcionária municipal e governanta do prefeito, Maria Deusa Pires da Silva, conseguiram trancar a ação no TJ (Tribunal de Justiça), mediante habeas corpus. Nunca foram a julgamento.

Jorge Vieira virou nome de fórum. Sua viúva, depois de agredir fisicamente a mulher do ex-prefeito, mudou de lado e converteu-se em cabo eleitoral de Leitoa.

Fica a pergunta: a mando de quem o capanga Geraldo da Silva Silva e seus comparsas atacaram e mataram o radialista?

Eis aí mais uma questão que deveria interessar aos organismos defensores dos direitos humanos. Jorge Vieira, morto sem sepultura, alma penada no fórum de Timon, aguarda a resposta.

(com infromações Walter Rodrigues)

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