A oito dias do primeiro turno das eleições, duas revistas abordam o momento político brasileiro
A oito dias do primeiro turno das eleições, duas revistas semanais
brasileiras já nas bancas abordam o momento político do País de forma
diametralmente opostas. O tema central de Veja e de Carta Capital é a
discussão sobre a liberdade de imprensa. Mais do que isso, é a visão que
cada uma tem do processo político e do conceito de democracia. Carta
Capital comenta atos de nítida inspiração "conservadora" organizados e
em "marcha" contra o atual governo. Veja sustenta que a liberdade e a
"imprensa livre" no País estariam sob ameaça. Na quarta-feira (22), o
presidente Lula disse, em entrevista, que a comunicação no País "é
dominada por nove ou dez famílias" e que a imprensa "tem candidato",
embora não diga às claras quem é ele; o candidato. Em editorial, na
edição deste sábado (20), o jornal O Estado de S.Paulo também trata do
tema.
Carta Capital lembra a Marcha com Deus pela Família e pela Liberdade e
outras manifestações públicas organizadas por setores "conservadores" da
sociedade, entre 1963 e 1964, que resultaram na derrubada do poder do
então presidente João Goulart. Com o título de capa "Eles ainda sonham
com a marcha", Carta Capital diz que, "em desespero" diante da possível
vitória da candidata petista à presidência Dilma Rousseff "tenta evocar
fantasmas do passado, alimentada pela mídia".
A revista traça um paralelo entre a Marcha com Deus pela Família e um
ato "contra o autoritarismo", realizado na quarta-feira (22), saudado
por uma parcela da mídia como reação indignada da "sociedade civil". No
ato, que contou com a participação de militantes do PSDB e ex-ministros
do governo FHC, como José Gregori e José Carlos Dias, foram feitas duras
críticas ao presidente Lula e ao seu governo.
Outra reportagem da revista, assinada pelo jornalista Mino Carta,
diretor de redação, fala da exigência feita pela vice-procuradora da
Justiça Eleitoral, Sandra Cureau, para que Carta Capital entregasse, no
prazo de cinco dias, documentação completa sobre o relacionamento
publicitário da revista com o governo federal. A procuradora dizia ter
recebido uma denúncia anônima. A revista chama Sandra Cureau de "a
censora" e também vê sua atitude como "uma tentativa de assalto à
liberdade de imprensa".
Além disso, a publicação traz como contraponto uma relação de contratos
do governo de São Paulo, administrado pelo PSDB, com grandes grupos de
comunicação do País, como a Editora Abril, Folha de S.Paulo e O Estado
de S.Paulo.
Com a Editora Abril, relata Carta Capital, o governo tem compras de
assinaturas das revistas Nova Escola, Veja, Guia do Estudante e Recreio.
A da Nova Escola, por exemplo, é a aquisição de 220 mil, assinaturas
para Unidades Escolares da Rede Estadual de Ensino, no valor de R$
3.740.000,00. Já a Veja soma 5.449 assinaturas no valor de R$ 1,16
milhão.
Além da editora, os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo e
Editora Globo também mantém contratos com o governo, de acordo com a
publicação, informa Carta Capital. Nas negociações, a Folha vendeu 5.200
assinaturas anuais para escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de
São Paulo com valor de R$ 2,5 milhões. O Estado de S. Paulo também
vendeu 5.200 assinaturas do jornal destinadas às escolas estaduais no
valor de R$ 2,5 milhões. Já a Editora Globo tem um contrato de 5.200
assinaturas para as escolas da revista Época de R$ 1,2 milhão.
VEJA
A Veja, em sua principal reportagem, trata do que entende serem riscos à democracia no País. Sua capa traz o título: "A liberdade sob ataque" e diz, no subtítulo, que "a revelação de evidências irrefutáveis de corrupção no Palácio do Planalto renova no presidente Lula e no seu partido o ódio à imprensa livre".
A Veja, em sua principal reportagem, trata do que entende serem riscos à democracia no País. Sua capa traz o título: "A liberdade sob ataque" e diz, no subtítulo, que "a revelação de evidências irrefutáveis de corrupção no Palácio do Planalto renova no presidente Lula e no seu partido o ódio à imprensa livre".
Ainda na capa, a Veja cita a Constituição brasileira que prevê a
liberdade do pensamento, expressão e da informação e no texto intitulado
"A imprensa ideal dos petistas" diz que o governo Lula e o PT "sacam do
autoritarismo e atiram na imprensa, que acusam de ser golpista e
inventar histórias", por não quererem "jornalismo nenhum".
Em outro texto, a revista repercute as denúncias contra a ex-ministra
da Casa Civil Erenice Guerra, a partir de um depoimento do ex-diretor
dos Correios Marco Antônio de Oliveira. Apontado como "lobista",
Oliveira diz que "a Casa Civil virou uma roubalheira(...). Esta
"roubalheira", afirma Oliveira, "levou minha família à ruína". A
publicação faz críticas às denúncias de lobby e aponta a relação entre
um sobrinho de Marco Antônio, Vinicius Castro, ex-assessor da Casa
Civil, com a família de Erenice Guerra.
ISTOÉ
A revista IstoÉ aborda em sua capa "O avanço da onda vermelha". Mostra a base política que o governo deve conquistar no Congresso com a possível vitória de Dilma. O eventual governo Dilma tende a garantir "uma quase inédita maioria governista no Congresso".
A revista IstoÉ aborda em sua capa "O avanço da onda vermelha". Mostra a base política que o governo deve conquistar no Congresso com a possível vitória de Dilma. O eventual governo Dilma tende a garantir "uma quase inédita maioria governista no Congresso".
A revista utiliza os dados das últimas pesquisas para mostrar que a
candidata petista está à frente de José Serra, candidato do PSDB à
presidência, em locais que Lula foi vencido pela oposição em 2006.
Em outra reportagem, IstoÉ denuncia, a partir de documentos em poder da
Procuradoria-Geral da República, um suposto envolvimento de Hélio
Costa, ex-ministro das Comunicações e candidato ao governo de Minas
Gerais pelo PMDB, em desvio de R$ 169 milhões da Telebrás. Costa, de
acordo com a revista, é investigado porque teria participado de um
esquema de lavagem de dinheiro envolvendo a estatal.
ÉPOCA
Já a capa da revista Época traz o humorista Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo pelo PR. A reportagem traz indícios de que ele seja analfabeto e que, se vencer, poderá ser o deputado mais votado do País.
Já a capa da revista Época traz o humorista Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo pelo PR. A reportagem traz indícios de que ele seja analfabeto e que, se vencer, poderá ser o deputado mais votado do País.
Na Época, a reportagem intitulada "O novo ataque de Lula à mídia" fala
das últimas declarações do presidente sobre o assunto e ressalta algo
que, em meio ao tiroteio, passa despercebido. Não é Época que faz a
seguinte pergunta:
- A três meses do fim do seu mandato e há quase 8 anos na presidência
da República, qual teria sido a ação de Lula contra algum órgão de
comunicação?
Mas, é a revista Época que observa: "Apesar de todas as manobras e
discursos contra a imprensa, até o momento não houve por parte do
governo nenhuma medida concreta de censura ou cerceamento à liberdade de
expressão."
Fonte: Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são de responsabilidades de seus autores.