CRIME ELEITORAL
Exigência de documento com foto para votar recria clientelismo no interior do Maranhão
ELVIRA LOBATO
Da Folha de S. Paulo
A exigência de apresentação de um documento com foto para votar criou um novo mercado para o clientelismo eleitoral no interior do país.
No Maranhão, cabos eleitorais pagam o transporte para jovens de
famílias de baixa renda tirarem a carteira de trabalho e ficarem aptos
para a votação. A oferta pressupõe o compromisso de voto nos candidatos
que bancam a viagem.
A reportagem da Folha de S. Paulo ouviu
relatos dessa compra indireta de votos nos municípios de Cachoeira
Grande e de Morros, a cerca de 100 quilômetros da capital maranhense.
A estudante Silmara Cruz, 18, contou que ela e a irmã Cecília, 19,
tiraram carteira de trabalho dessa forma, na semana passada. Ela disse
que viajou com mais sete jovens a Axixá, um município vizinho, para
obter o documento, com passagem paga por pessoa ligada ao grupo de
Roseana Sarney (PMDB).
A jovem é aluna do segundo grau do Centro
de Ensino Tancredo Neves, uma escola pública estadual com 580 alunos. A
diretora-adjunta da escola, Marizete Santos, disse que a maioria dos
estudantes não tem carteira de identidade nem CPF, o que, inclusive,
impede a participação deles nas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio).
Dos 68 alunos que concluíram o ensino médio na escola no
ano passado, 30 ainda não retiraram o histórico escolar por falta de
carteira de identidade.
Aleff Oliveira Reis, 17, aluno do 2º ano
do ensino médio, também viajou a Axixá para tirar carteira de trabalho
com passagem custeada pelo PMDB.
O jovem disse que não conseguiu o
documento no próprio município porque a prefeitura alegou que estava
sem o material para a emissão da carteira de trabalho.
Davi
Teixeira, 18, mora com a avó, um prima, um irmão e um sobrinho, a 5 km
de Morros. Ele e a avó plantam milho, mandioca e feijão para
subsistência da família.
O jovem cursa o terceiro ano do ensino
médio e não tem a carteira de identidade nem a de trabalho, mas defende a
exigência de um documento com voto para votação, para evitar fraude.
Disse que a situação financeira da família é muito difícil e ele não
pode gastar R$ 35 para ir a São Luís tirar a carteira de identidade.
Disse também que votaria em Dilma Rousseff (PT), por causa do presidente
Lula, mas que ainda está indeciso em relação à eleição para governador.
Em Cachoeira Grande, estudantes contaram que os cabos eleitorais
pagaram viagem até São Luís para a obtenção de carteira de identidade, e
que enviavam uma pessoa na véspera para obter as senhas para agilizar o
atendimento ao grupo.
Outro lado – A assessoria da governadora
Roseana Sarney, que disputa a permanência no cargo por uma coligação de
16 partidos, negou que haja dificuldade para obtenção de carteira de
identidade e CPF no estado.
Segundo a assessoria, o governo
mantém 20 ônibus equipados com material necessário para emitir os
documentos circulando pelos municípios, e não haveria “demanda
reprimida”.
( * Uma garapa de Cana a Elvira)
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