sábado, 2 de outubro de 2010

Em troca de votos, aliados de Roseana pagam para jovens tirarem documento

CRIME ELEITORAL

Exigência de documento com foto para votar recria clientelismo no interior do Maranhão

ELVIRA LOBATO

Da Folha de S. Paulo


A exigência de apresentação de um documento com foto para votar criou um novo mercado para o clientelismo eleitoral no interior do país.

No Maranhão, cabos eleitorais pagam o transporte para jovens de famílias de baixa renda tirarem a carteira de trabalho e ficarem aptos para a votação. A oferta pressupõe o compromisso de voto nos candidatos que bancam a viagem.

A reportagem da Folha de S. Paulo ouviu relatos dessa compra indireta de votos nos municípios de Cachoeira Grande e de Morros, a cerca de 100 quilômetros da capital maranhense.

A estudante Silmara Cruz, 18, contou que ela e a irmã Cecília, 19, tiraram carteira de trabalho dessa forma, na semana passada. Ela disse que viajou com mais sete jovens a Axixá, um município vizinho, para obter o documento, com passagem paga por pessoa ligada ao grupo de Roseana Sarney (PMDB).

A jovem é aluna do segundo grau do Centro de Ensino Tancredo Neves, uma escola pública estadual com 580 alunos. A diretora-adjunta da escola, Marizete Santos, disse que a maioria dos estudantes não tem carteira de identidade nem CPF, o que, inclusive, impede a participação deles nas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Dos 68 alunos que concluíram o ensino médio na escola no ano passado, 30 ainda não retiraram o histórico escolar por falta de carteira de identidade.

Aleff Oliveira Reis, 17, aluno do 2º ano do ensino médio, também viajou a Axixá para tirar carteira de trabalho com passagem custeada pelo PMDB.

O jovem disse que não conseguiu o documento no próprio município porque a prefeitura alegou que estava sem o material para a emissão da carteira de trabalho.

Davi Teixeira, 18, mora com a avó, um prima, um irmão e um sobrinho, a 5 km de Morros. Ele e a avó plantam milho, mandioca e feijão para subsistência da família.

O jovem cursa o terceiro ano do ensino médio e não tem a carteira de identidade nem a de trabalho, mas defende a exigência de um documento com voto para votação, para evitar fraude.

Disse que a situação financeira da família é muito difícil e ele não pode gastar R$ 35 para ir a São Luís tirar a carteira de identidade. Disse também que votaria em Dilma Rousseff (PT), por causa do presidente Lula, mas que ainda está indeciso em relação à eleição para governador.

Em Cachoeira Grande, estudantes contaram que os cabos eleitorais pagaram viagem até São Luís para a obtenção de carteira de identidade, e que enviavam uma pessoa na véspera para obter as senhas para agilizar o atendimento ao grupo.

Outro lado – A assessoria da governadora Roseana Sarney, que disputa a permanência no cargo por uma coligação de 16 partidos, negou que haja dificuldade para obtenção de carteira de identidade e CPF no estado.

Segundo a assessoria, o governo mantém 20 ônibus equipados com material necessário para emitir os documentos circulando pelos municípios, e não haveria “demanda reprimida”.

( * Uma garapa de Cana a Elvira)

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