domingo, 10 de outubro de 2010

Deputado pode estar envolvido em crime eleitoral investigado pela PF

PAGAMENTO DE CONTAS EM TROCA DE VOTOS
Rapaz que quitou perto de 500 contas de luz, água e telefone de consumidores pobres, pouco antes das eleições, seria ligado a um parlamentar roseanista

POR OSWALDO VIVIANI

Um deputado estadual reeleito pela coligação “O Maranhão não pode parar”, encabeçada pela governadora eleita Roseana Sarney (PMDB), pode estar envolvido no crime eleitoral de pagamento de contas de luz, água e telefone de moradores pobres em troca de votos nas últimas eleições. O caso foi divulgado em primeira mão na edição do último dia 3 do Jornal Pequeno. Segundo o JP apurou, o delegado federal Rodrigo Correia – que investiga o caso – já identificou o rapaz que teria feito pagamentos de cerca de 500 contas, no valor total de R$ 28 mil, numa lotérica do centro de São Luís. Seu primeiro nome é Bruno. Ele seria ligado a um deputado roseanista.

Na próxima semana, o delegado Rodrigo Correia e a procuradora eleitoral Carolina da Hora Mesquita Höhn – autora do pedido de investigação – vão se reunir para avaliar o caso.

Acredita-se que o esquema criminoso tenha se estendido a mais de 30 bairros pobres de São Luís. O JP teve acesso a contas quitadas pelo rapaz, agora identificado por Bruno, de moradores do Lira, da Coreia, do Codozinho e do Retiro Natal. Até uma entidade assistencial do Rio dos Cachorros teve sua conta paga pelo esquema suspeito (veja texto em destaque).

Conforme o JP divulgou há uma semana, o rapaz que está sendo investigado desembolsou, entre os dias 16 e 30 de setembro, R$ 28 mil para pagar perto de 500 contas numa lotérica do centro de São Luís. A pessoa pagou contas no valor de R$ 8 mil, numa primeira vez, e levou uma nova remessa, dias depois, no valor de 20 mil.

A reportagem do JP foi a alguns dos endereços de beneficiados pelos pagamentos e verificou que nas casas de todos eles estavam afixados cartazes da propaganda eleitoral de Roseana Sarney e de Ricardo Murad (PMDB, cunhado de Roseana, ex-secretário de Saúde e deputado estadual reeleito).

O dono da lotérica confirmou o caso ao JP. Seu nome não foi divulgado para não atrapalhar as investigações. Ele informou que, por ocasião do pagamento da segunda remessa, o dinheiro que a pessoa – Bruno – trazia (R$ 10 mil) não foi suficiente. Então, ele foi buscar mais R$ 10 mil. Mesmo assim, o dinheiro não deu. “Aí, ele deixou um calhamaço de contas aqui na casa lotérica e disse que ia pegar mais dinheiro, mas quando voltou foi só para levar as contas”, disse o proprietário.
Segundo ele, o rapaz ficou desconfiado porque no momento em que somava os valores das contas, no escritório da lotérica, surgiu na sala uma repórter do jornal Folha de S. Paulo (Elvira Lobato), que investigava o caso.

A repórter aproveitou a ausência do rapaz para conferir os dados e fotografar e filmar contas de várias pessoas. Com os nomes e endereços de alguns dos consumidores, moradores do Bairro do Lira, ela chegou a suas casas. Confirmou que nessas residências e em varias outras do bairro havia cartazes de Roseana e de Ricardo Murad.

Conta de entidade assistencial foi paga pelo esquema suspeito

O JP teve acesso aos nomes dos consumidores constantes nas várias contas de luz, água e telefone fotografadas antes de serem pagas por Bruno, suspeito de operar o esquema de quitação de contas em troca de votos em São Luís na recente eleição.

Em meio às contas, uma chama a atenção. É da Associação Assistencial ao Menor Carente Livramento, que tem sede no Rio dos Cachorros (Rua Principal, 113).
A entidade é presidida por Arnaliz Pires Fonseca. Ela também coordena o grupo folclórico Dança do Boiadeiro Encanto do Rio dos Cachorros, que se apresenta principalmente nos festejos juninos maranhenses.

A reportagem do JP conversou por telefone, ontem pela manhã, com Arnaliz Fonseca – que já foi filiada ao PT do B, partido da coligação roseanista – e ela informou que não conhece “nenhum Bruno” e não repassou “nenhuma conta para ninguém pagar”.

De acordo com Arnaliz, a pessoa que ficou responsável pelo pagamento da conta que estava nas mãos de Bruno (de mais de R$ 200) era sua sobrinha Lucilene Pires de Moraes, que promoveu alguns cursos na associação, de fevereiro a agosto deste ano.

Lucilene, segundo Arnaliz, é ligada a Roseana Sarney e Ricardo Murad e fez campanha para eles nas eleições deste ano.

(Oswaldo Viviani)

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